Sociedade
25 Janeiro de 2022 | 08h37

Luanda completa hoje 446 anos da fundação

A cidade de Luanda assinala nesta terça-feira (25) o seu 446º aniversário, com a execução de dezenas de projectos, no âmbito do Plano Integrado de Intervenção nos Municípios (PIIM) e com a situação do lixo minimamente controlada.

Nestes 446 anos, Luanda continua a debater-se com construções anárquicas, o registo de actos de vandalismo de bens públicos e privados e um elevado número de famílias vulneráveis, como consequência da Co-vid-19, que deixou milhares de trabalhadores informais desempregados.

A cidade capital tem-se debatido com o aumento do custo de vida, que fez com que muitas famílias perdessem o poder de compra e se agravassem as deficiências nos serviços sociais básicos e os índices de criminalidade, factores que afectam, igualmente, os outros municípios da província de Luanda.
No entanto, a execução dos projectos do PIIM, com a construção de escolas, centros e postos de saúde, reparação de estradas, melhoria no abastecimento de água potável e energia eléctrica apontam para dias melhores quanto a oferta destes Serviços.

 A solução para centenas de famílias carentes e vulneráveis na província de Luanda foi a atribuição de kits de serralharia, alvenaria, corte e costura, carrinhos de kitutes da terra, motas de três e duas rodas, para o fomento do auto-emprego, no âmbito do Programa Integrado de Desenvolvimento Local e Combate à Pobreza (PIDLCP).

Situada na costa Oeste de África, Luanda é a capital de Angola e foi fundada a 25 de Janeiro de 1576, pelo explorador português Paulo Dias de Novais, sob o nome de "São Paulo de Assunção de Loanda”.

Um ano depois da sua fundação, o explorador português Paulo Dias de Novais lança a pedra para a edificação da igreja dedicada a São Sebastião, no lugar onde hoje é o Museu Central das Forças Armadas.
Só cerca de três décadas depois, com o aumento da população europeia e o consequente aumento de edificações, a vila passa à cidade.

Com um perfil extremamente cosmopolita, os habitantes de Luanda são, na sua maioria, membros dos grupos étnicos ambundos, congos e ovimbundos, existindo fracções relevantes de todas as origens étnicas angolanas. Existe uma população de origem europeia, constituída principalmente por Portugueses.

Após a Independência de Angola, em 1975, o município de Luanda foi extinto, dividindo-se o território da província, primeiro, em três municípios e, depois, em nove: Cazenga, Ingombota, Kilamba Kiaxi, Maianga, Rangel, Sambizanga, Samba, Viana e Cacuaco.

A 1 de Setembro de 2011, pela Lei nº 29/11, foi restaurado o município de Luanda, com 113 quilómetros quadrados, e perderam a categoria municipal a Ingombota, Maianga, Rangel, Sambizanga e Samba, passando a distritos.
Com uma população estimada em mais de 2.194.747 habitantes, a cidade de Luanda, cujo nome vem de Axiluandas, "os homens do mar” nativos da Ilha do Cabo, é o município com maior número de habitantes da República de Angola.

Luanda é o principal centro financeiro, comercial e económico de Angola, nela estão sediadas as principais empresas do país, como a Endiama, Sonangol, Banco Nacional de Angola e a Bolsa de Dívida e Valores de Angola.
No campo industrial, Luanda tem a transformação como uma das principais actividades, que inclui alimentos processados, bebidas, têxteis, cimento, materiais de construção, produtos plásticos e metais e também possui um excelente porto natural, de onde exporta diversos produtos.

Vale a pena mencionar, no entanto, a zona periférica que prolonga Luanda, muitos quilómetros além da antiga cidade, como resultado de várias décadas de conflito armado, acolhendo centenas de milhares de angolanos que procuraram refúgio na capital.

Com uma extensão de 18.826 quilómetros quadrados, a província estendeu-se para zonas antes agrícolas, com o surgimento de novas zonas habitacionais, como os Zangos (de um até cinco), Kilamba, Vida Pacífica, Sequele e Centralidade do Km 44,  entre outras áreas residenciais, que acolheram centenas de milhares de famílias, que antes não tinham casa própria.

Quem vive ou visita Luanda, para se locomover tem como principal sistema de transporte os táxis, também chamados de candongueiros, pintados de azul e branco, que ligam as diversas zonas da cidade, usando como principais vias a Estrada Nacional 100, que liga ao Norte do país, e a EN-230 (Deolinda Rodrigues), que liga a Ndalatando, Malanje e Saurimo, entre outras.

Outro meio de transporte colocado à disposição dos luandenses são os comboios do Caminho-de-Ferro de Luanda (CFL), que saem da Estação dos Musseques, Baixa de Luanda, para Viana e os comboios suburbanos que se destinam a Catete e Icolo e Bengo.

Luanda tem como cartão de visita a Baía de Luanda, a antiga Avenida Marginal ou Avenida 4 de Fevereiro, com belas edificações, como o edifício do Banco Nacional de Angola, que ainda mantém o brasão de Portugal na fachada.
Os edifícios históricos coloniais, como o Governo Provincial, os museus das Forças Armadas, Antropologia, da Moeda, História Natural e o da Escravatura, onde se podem ver instrumentos de coerção e imobilização usados contra os escravos são, entre outros, locais que também servem de cartão postal.

Quem chega a Luanda devia fazer questão de visitar as ilhas de Luanda e do Mussulo, que na realidade, não se trata de uma ilha, mas de uma restinga acompanhada por diversas ilhotas, com belíssimas praias.

Outras atracções são o Miradouro da Lua, um local quase irreal, com falésias de diversas cores, a Praça do Artesanato, com objectos de madeira, bijuterias e belíssimos quadros, com as cores fortes típicas de África, e o Parque da Kissama, com fauna e flora diversa.

Actualmente, com mais de oito milhões de habitantes, a província de Luanda está dividida administrativamente pelos municípios de Luanda, Cazenga, Viana, Cacuaco, Belas, Icolo e Ben-go, Kissama, Talatona e Ki-lamba Kiaxi.

Cidade está a crescer de forma desordenada

A capital de Angola, Luanda, assinala, hoje, 446 anos de existência, desde a sua fundação, em 1576, pelo português Paulo Dias de Novais. Localizada na região Centro-Norte do país, já foi considerada, durante várias décadas, uma das cidades mais lindas de África.
Hoje, este estatuto tende a se perder devido ao crescimento desordenado de inúmeros bairros, pelo deficitário sistema de saneamento básico e, acima de tudo, pelos vários problemas sociais que apresenta.


Em prol à efeméride, o Jornal de Angola visitou alguns novos bairros de Luanda, para saber como surgiram e os problemas que mais apoquentam os moradores.

Um dos bairros visitados é o da Mutamba, localizado no Distrito Urbano da Vila Flor, município de Viana, fundado nos anos 2011/2012, que tem como principal acesso a avenida Comandante Fidel Castro (Via Expresso).
O bairro surgiu na sequência de invasões de terreno, feitas, maioritariamente, por cidadãos da etnia bakongo, que usavam a força, a ponto de matarem alguns camponeses detentores de documentos provisórios, passados pelo Ministério da Agricultura, que lhes dava permissão para explorarem a zona de cultivo.


Hoje, de zona agrícola apenas sobraram lembranças, porque o bairro continua a crescer de forma tão desordenada que propicia a prática de vários crimes. No bairro da Mutumba, Distrito da Vila Flor, os moradores têm hora de entrada e de saída, que vai das 6h30 às 17h30, caso contrário são molestados por meliantes, porque a presença da Polícia não se faz sentir.


O Distrito da Vila Flor, onde está localizado o bairro da Mutamba, ocupa uma área de cerca de 87 quilómetros quadrados, mas possui, apenas, uma pequena esquadra policial, com uma única viatura, que, frequentemente, está avariada.
Os meliantes, que diariamente tiram o sono aos moradores, até já sabem quando o carro da Polícia está avariado, porque fica apoiado sobre pedras durante dias, defronte à esquadra.

Eduardo dos Santos, um dos moradores mais antigos do bairro e funcionário da Comissão de Moradores, disse à nossa reportagem que a Polícia pouco ou quase nada faz pela segurança da população.


"Muitas vezes, quando contactados pelos moradores, a resposta da Polícia é quase sempre a mesma: Está bem, a queixa está registada, mas de momento não temos meios para nos dirigirmos ao local do crime”, lamentou Eduardo dos Santos.
Na visão dos moradores, no bairro da Mutamba as pessoas vivem a triste sensação do salve-se quem puder e um forte sentimento de insegurança, por isso, quando um bandido é apanhado, fazem justiça por mãos próprias, agredindo-os, muitas vezes até à morte.

A título de exemplo, na última sexta-feira, data em que visitámos o bairro da Mutamba, nos apercebemos que, na madrugada do mesmo dia, três bandidos foram queimados pela população, até à morte, porque assaltaram, pela terceira vez, uma cantina, que muito tem ajudado os moradores.

A crescente onda de criminalidade no bairro tem sido causada, também, pela falta de energia eléctrica da rede pública. A corrente eléctrica das poucas lâmpadas acesas que vimos é fornecida por postes de transformação privados, que cobram de 10 a 15 mil kwanzas por mês.

Fundação do bairro custa a vida da mulher  

No bairro Dangereux, localizado no Distrito Urbano da Camama, município de Talatona, fundado em 2003, com o aparecimento das primeiras construções definitivas, o fornecimento de energia eléctrica tende a melhorar consideravelmente, nos últimos tempos. O bairro, que possui cerca de 500 mil habitantes, além de usar energia fornecida por postes de transformação privados, conta com luz da rede pública, em sistema pré-pago.

Com uma área estimada em 700 quilómetros quadrados, o bairro Dangereux foi fundado pelo major das Forças Armadas Angolanas Chicusi Fernando Muliato, "Pensamento do Povo”, que tem 85 anos e ainda reside lá.


O major Pensamento do Povo, como é tratado por todos, atribuiu o nome Dangereux ao bairro em homenagem ao seu tio, Paulo Silva Mucungo "Dangereux”, que, na altura, era membro do Bureau Político do MPLA, segundo informações dele.
O bairro, que é maioritariamente habitado por pessoas oriundas da zona Leste do país (Moxico, Lunda-Norte e Lunda-Sul), já foi campo de batalha entre invasores de terras e parentes do major Pensamento do Povo, por este estar à frente do processo de distribuição de terrenos a alguns militares.

O presidente da Comissão de Moradores do bairro Dangereux, o coronel das Forças Armadas Angolanas José Henrique de Amor, contou à nossa reportagem que o facto de o major "Pensamento do Povo” estar à frente do processo causou inveja no seio de alguns colegas, que planearam afastá-lo.

"Um dia, de noite, enquanto o major dormia, a sua residência foi invadida por militares e agentes da Polícia, que, também, lutavam pelo lugar, e, numa troca de tiros, acabaram por matar a sua esposa, com duas balas na cabeça”, disse.
Para proteger a sua vida, porque a perseguição continuava, o fundador do bairro fugiu para a província do Moxico, sua terra natal, dando assim origem a várias construções anárquicas no bairro Dangereux, que já conta com 19 anos de existência.

Apesar de estar cercado por condomínios luxuosos, o bairro Dangereux, à semelhança do bairro Mutamba, possui graves problemas sociais, como criminalidade, falta de água potável, fraco saneamento básico, índice elevado de pobreza e muita prostituição.

Fonte: JA